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Palavra da Inspetora

em 08/03/2019 | 00h00min

Palavra da Inspetora

Inspetoria Nossa Senhora da Penha  -  Circular 03/2019 

Queridas Irmãs,

“A vida é, muitas vezes, um deserto, é difícil caminhar, mas se há confiança em Deus, ela pode ser bela e ampla, como uma avenida. Basta não perdermos jamais a esperança e continuarmos a crer, sempre, apesar de tudo”. (Papa Francisco)

No cenário de mundo que vivemos hoje e no inicio da quaresma muito nos ajuda o pensamento de Santo Agostinho (353-450 da era cristã): “a esperança tem duas belas e queridas filhas: a indignação e a coragem; a indignação para recusar as coisas como estão aí; e a coragem, para mudá-las”.

Neste momento da nossa história, devemos evocar, em primeiro lugar, a filha-indignação contra a violência, a pobreza instalada nos rostos de nossos irmãos desempregados, marginalizados e vítimas do descaso social, dos imigrantes expulsos de suas terras e pátrias, de suas casas e famílias. Um futuro que se apresenta contra os indígenas, contra os negros, contra os quilombolas, contra a população do campo, contra as mulheres, contra os sem-teto, e os sem-terra. Contra os idosos, crianças e jovens, privados do direito de sonhar com uma vida digna.

A filha-coragem se mostra na vontade de mudanças, não obstante os desafios gerados e impostos por uma realidade tão frágil e incerta. É ela que nos manterá animados, nos sustentará na luta e poderá nos levar a mudanças concretas, duradouras e reais. 

As duas belas filhas da esperança poderão fazer sua a frase do escritor argelino-francês Albert Camus, autor do famoso romance A Peste: “Em meio ao inverno, aprendi que bem dentro de mim, morava um verão invencível”.

A esperança não é apenas um princípio, quer dizer, um dado da essência humana. Ela é também uma virtude cristã, junto com a fé e o amor. A esperança, de certa forma, está na base da vida. Podemos perder a fé e continuarmos a viver. Podemos perder o amor nas estradas da vida e continuarmos acreditando na força do verdadeiro amor. Mas quando perdemos a esperança, a vida se torna vazia, sem sentido e o futuro não possui mais nenhum horizonte, falta a luz orientadora. E as trevas dominam e tendem a permanecer na nossa casa, no nosso coração humano.

Curiosamente, os Evangelhos nunca falam de esperança. Logicamente, havia no povo eleito, a esperança pela vinda do Messias libertador. Ela ocorre uma vez na Epístola de São João (1 Jo, 3,3), 4 vezes na epístola aos Hebreus e 3 vezes na primeira epístola de São Pedro. Mas é uma virtude muito presente nos Atos dos Apóstolos e frequentemente nas cartas de São Paulo. Bem escreve o autor na Epístola aos Romanos que Abraão teve “uma esperança contra toda esperança, de ser pai de muitas nações” (4,18). Numa outra passagem diz que “a esperança nunca engana, pois o amor está em nossos corações” (5,5). Embora não se use frequentemente a palavra esperança, a realidade da esperança para os cristãos foi, é e será sempre Jesus Cristo vivo, morto e ressuscitado.

Devemos somar as energias da esperança, daquela que está sempre presente em nosso ser com aquela que é uma virtude cristã. Ambas se dão as mãos. Elas nos enriquecem com as energias para suportar as aflições do tempo presente, mas muito mais nos dão a coragem para enfrentá-las e inaugurar um novo caminho.

Talvez nunca em nossa história tenhamos precisado tanto das duas formas de esperança como agora, pois os tempos são maus e somos governados por forças poderosas do ódio, da exclusão, da falsidade, da violência e da mentira.

O Papa Francisco nos diz: “Os homens precisam de esperança para viver e precisam do Espírito Santo para esperar”. Ele cita a carta aos Hebreus, que compara esperança a uma âncora (cf. 6,18-19); e a esta imagem acrescenta a vela. Se a âncora é o que dá segurança ao barco e o mantém “ancorado” no balanço do mar, a vela é o que faz caminhar e avançar sobre as águas. “A esperança é realmente como uma vela; ela recolhe o vento do Espírito Santo e O transforma em uma força motriz, que impulsiona o barco, conforme a necessidade, para o mar ou para a terra”, conclui. Desse modo, conscientes de que quem está conosco  é o Espírito, e Ele que é a esperança dos pobres não nos deixa desanimar, mas nos acompanha com sua energia divina para sermos fiéis ao sonho de Jesus. Ele veio para nos ensinar a viver os bens do Reino: o amor, a paz, a justiça, a compaixão com os pobres, o perdão e a total confiança no poder de Deus, “apaixonado amante da vida”(Sb 11,2 6). Pois se contamos com o sopro do Espírito Santo, o mar já não nos assusta como antes e podemos navegar com confiança.

Bendito é aquele que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor (Jr 17.7).

Santa caminhada quaresmal em direção à Páscoa do Senhor.

O abraço fraterno de Ir. Ana Teresa

Fonte: Redação